Nota do Editor: A Billboard publicou anteriormente uma versão condensada deste artigo em português. Como uma cortesia aos nossos leitores brasileiros, a Billboard decidiu publicar a matéria original em inglês na íntegra em português. Inclui atualizações sobre o status de “Un Ratito”.
RIO DE JANEIRO – Atrás de um complexo murado numa estrada de terra cercado por palmeiras e uma exuberante montanha verde, os produtores e DJs Sean e Kevin Brauer aprenderam a fazer música enquanto viviam na comunidade religiosa Meninos de Deus nas duas primeiras décadas de suas vidas.
O objetivo, no entanto, não era o estrelato na dance-music — era produzir rock cristão e música folclórica para apoiar o movimento religioso. Os irmãos Brauer tiveram uma educação domiciliar, não tiveram acesso à internet e tiveram pouca interação com os “systemites” — brasileiros que viviam fora das paredes de pedra do complexo. Mas, lá dentro eles tinham um estúdio de música e viviam entre músicos como o guitarrista Jeremy Spencer, que foi um dos membros fundadores do Fleetwood Mac.
Uma noite em 2004, Sean, com 16 anos, pulou um muro de 3 metros e fugiu para uma rave numa estrada na Ilha de Guaratiba, cerca de uma hora a oeste do Rio. “Eu me apaixonei pela música eletrônica”, disse ele a Billboard, “e decidi que queria ser um DJ”.
Ele passou a década seguinte trabalhando duro como um produtor fantasma — os criadores anônimos por trás das faixas para outros artistas. Então, em 2015, ele conheceu Alok Petrillo, o DJ brasileiro em ascensão que passou a ser chamado pelo seu primeiro nome. Sean e Kevin formaram o duo Sevenn e lançaram “BYOB”, um remix de uma música de 10 anos do System of a Down, com o Alok, colocando o Brazilian Bass no mapa de dança global. Nos quatro anos seguintes, o Sevenn produziu músicas que ajudaram promover o Alok a um dos artistas musicais mais bem sucedidos da América do Sul.
Agora, os irmãos Brauer falam sobre o que chamam de “relacionamento comercialmente abusivo e unilateral” com Alok. O Sevenn disse a Billboard que eles trabalharam em pelo menos 14 faixas para o DJ brasileiro e que não receberam nenhum crédito, divisões de publicação ou remuneração por elas. Os irmãos também afirmam que eles — e não Alok — criaram a deep-house offshoot Brazilian Bass, onde a popularidade crescente levou à assinatura de Alok com a Warner Music dance imprint Spinnin’ Records.
“O Alok inicialmente ajudou, e nós ficamos felizes em retribuir o favor, até que começamos a perceber que ele estava lucrando enormemente com o nosso trabalho sem oferecer nada substancial em troca”, dizem os irmãos Brauer em uma declaração conjunta.
A Billboard reuniu dados do Spotify em 12 das 14 faixas que os irmãos Brauer dizem não ter recebido nenhuma compensação. Se os irmãos Brauer tivessem sido compensados pelas contribuições que eles dizem ter feito nessas faixas, eles teriam ganho cerca de US$263,000 até o momento — US$223,000 em royalties de publicação e outros US$40,000 em taxas ao produtor — somente no Spotify. Essa estimativa pode chegar a mais de US$1.3 milhão quando os royalties de reprodução em outros serviços digitais e rádio forem levados em conta, sem mencionar as vendas globais.
A Billboard estima que as 12 faixas — que inclui “All I Want” de Alok e Liu; “Fuego” de Alok e seu irmão Bhaskar, e “Favela” de Alok com Ina Wroldsen — receberam um combinado de 1.024 bilhão pela reprodução e geraram um total combinado de quase US$4.13 milhões, em pagamentos da editora (US$3.38 milhões) e royalties de publicação (US$748 mil) do Spotify. E usando uma taxa padrão de 4% de royalties do produtor, além de qualquer taxa fixa que os produtores dessas 12 faixas foram pagos, a Billboard estima um pagamento total da taxa ao produtor de US$135.000.
Como muitos jovens artistas que não entendem a importância dos contratos e de advogados — e a necessidade de exigir crédito e compensação — os irmãos Brauer esperavam impulsionar sua associação com uma estrela em ascensão para um futuro mais brilhante. Eles hesitaram em defender-se e, a certa altura, até rejeitaram uma oferta do Alok para pagar pelo trabalho deles em duas músicas produzidas como fantasmas e em pagar royalties numa terceira. Inicialmente, dizem, eles não entendiam bem os royalties e sentiam que estavam “recebendo uma parte justa em troca de oportunidades e parcerias”.
A família Brauer forneceu provas a Billboard para apoiar suas reivindicações, incluindo e-mails e trocas de mensagens no WhatsApp com o Alok ao longo de seis anos — bem como gravações em áudio do Alok discutindo pedidos de produção, faixas finalizadas e contrato de gerenciamento do Sevenn com a Artist Factory, sediada em São Paulo.
Esses materiais mostram como Alok se apoiou fortemente nos irmãos Brauer para manter sua nova música fluindo e se tornar o DJ de dance music mais conhecido da América Latina, com 19 milhões de ouvintes mensais no Spotify, bem como um influenciador da mídia social com 26 milhões de seguidores no Instagram, que normalmente ganha mais de US$10,000 por postagem, de acordo com seu ex-empresário.
Em resposta aos repetidos pedidos de comentários, a equipe que gerencia o Alok enviou um e-mail se recusando a responder às perguntas específicas, mas alegando que “ao criar uma falsa narrativa” Kevin e Sean estavam “tentando se apresentar como vítimas e litigar suas disputas com o Alok na imprensa, bem como no tribunal da opinião pública. O Alok não tem intenção de morder a isca”.
A resposta menciona que o Alok tem “um processo em andamento contra o Sevenn no Brasil decorrente do fracasso do Sevenn em creditar e pagar o Alok por uma série de lançamentos do Sevenn”. (A ação judicial, que a Billboard analisou, foi uma das duas movidas pela equipe do Alok em janeiro e chegou mais de oito semanas depois que a Billboard procurou pela primeira vez os comentários. Este aqui foi arquivado em 12 de janeiro em uma corte civil de São Paulo, e focado em cinco faixas, incluindo “BOOM” com Tiësto.)
A situação do Sevenn-Alok ilustra uma questão muito ampla que vem borbulhando no mundo da dance music há anos: o papel e o tratamento dos produtores fantasmas. Famosos DJs têm confiado fortemente nos produtores não creditados para mantê-los em destaque, especialmente durante a explosão da EDM (dance music eletrônica) de 2010 a 2016, quando os DJs começaram a fazer turnês mundiais na maior parte do ano, muitas vezes às custas do tempo de estúdio.
Os DJs desenvolveram sistemas semelhantes aos de uma fábrica, onde os produtores fantasmas trabalham como funcionários assalariados e recebem ocasionalmente um crédito de publicação. Alguns DJs famosos, incluindo Steve Aoki, supervisionam o trabalho dos produtores fantasmas não creditados, mas remunerados com a capacidade um produtor executivo, de acordo com duas fontes do setor. (Um porta-voz do Aoki disse que não estava disponível para comentar.) Outros, como Tiësto, vem orientando jovens produtores talentosos — incluindo Avicii, Hardwell e Martin Garrix — em troca de músicas que mantém a música do mentor renovada. Em muitos casos, essas são “colaborações” apenas no nome.
“Algumas das melhores músicas eletrônicas do mundo foram feitas em colaboração, muitas vezes, com outros artistas e outras com produtores não creditados”, segundo Lorne Padman, produtor e vice-presidente da Dim Mak, gravadora do Aoki.”O elemento mais importante é garantir que o produtor não creditado seja remunerado de forma justa com um acordo em que se sintam felizes, que dê a eles uma taxa, royalty principal, divisão de publicação ou uma combinação de qualquer um destes. O que não é justo é não compensar com nada — que seria um roubo direto e protegido através da lei de direitos autorais — ou para forçar um mau negócio depois do fato”.
Para os produtores DJs comprometidos em fazer sua própria música, o amplo uso dos produtores fantasmas é uma fonte de frustração. “Vivemos na era do Milli Vanilli, e quase todos que são famosos são Milli Vanilli”, diz o artista holandês Laidback Luke, se referindo à dupla de R&B, do final dos anos 80, que foi destituída do seu Grammy de Melhor Artista Revelação quando foi revelado que os integrantes Fab Morvan e Rob Pilatus tinham sido escalados para sincronizar os vocais labiais gravados por outros. Os DJs de hoje “são marcas”, diz ele. “Eles ganham dinheiro. Eles têm seguidores, e eles são consumidos”.
No caso do Sevenn, o Alok nunca pagou salários regulares para a produção musical, segundo os irmãos Brauer, e raramente pagava alguma coisa. Mesmo quando o Alok tinha oportunidades de provar o valor da sua produção, como um remix de 2017, “Gotta Get a Grip” de Mick Jagger, ele recorreu a Sean Brauer para reformular a faixa do início ao fim — sem pagar ou creditar o Sevenn, dizem eles.
O acordo de trabalho deles era informal e ad-hoc. “Era como, ‘Venha se distrair, venha trabalhar’, aquele nível tipo, ‘somos amigos’”, diz Carol Brauer, uma das irmãs de Sean e Kevin, que está ajudando a supervisionar os assuntos financeiros do Sevenn. Os irmãos, segundo Kevin, de 29 anos, trabalhavam com Alok por “oito, nove horas e depois [ele] nem sequer oferecia um centavo pelo trabalho”.
Mas fora dos Meninos de Deus, “nós éramos como pequenos CDs em branco”, diz Sean, 33 anos. “Nós confiávamos tudo ao nosso senhor e salvador papa Alok. Nós não tínhamos ideia do mundo. Nós não tínhamos ideia de como os negócios funcionam. Tudo o que sabíamos fazer era compor música”.
Kevin diz: “Nós éramos muito ingênuos”.
‘Culty Prisoners’ e Estúdios de Música
O Sean Brauer fala hoje que ele e seus irmãos eram “culty prisioners” (prisioneiros do culto) dos Meninos de Deus. A mãe deles não vê desta forma. Com todas as regras restritivas da comunidade, Jody Brauer garante que a música tinha uma grande importância na vida dos seus filhos.
A Jody construiu estúdios de música, incluindo um em seu complexo de 5 hectares, conhecido como The Oasis, e outro no Rio, para o Spencer, que ajudou a fundar o Fleetwood Mac em 1967, e depois deixou a banda abruptamente em 1971 para se juntar aos Meninos de Deus depois de conhecer alguns missionários em Los Angeles. Enquanto a Jody não era “um membro modelo”, segundo ela, “era vantajoso me manter no grupo porque, ei, eu estava construindo estúdios. Havia muita música saindo desses estúdios, não apenas para os meus filhos, mas para outras pessoas”.
Filha de um produtor de TV em Hollywood, Jody Brauer cresceu na via rápida do sul da Califórnia. Depois de quase morrer de uma overdose de cocaína, ela diz que encontrou alguns “artistas em viagem” dos Meninos de Deus que a incentivaram a ficar limpa e juntar-se a eles no Brasil, onde a seita religiosa estava enviando missionários.
Depois de chegar ao Rio, em 1976, ela conheceu um policial federal brasileiro, Edson Oliveira, e embarcou em um caso de amor de 30 anos com quem teve oito filhos.
Os membros da comunidade só deveriam ouvir músicas feitas dentro dos Meninos de Deus, que acreditavam que uma grande pirâmide chamada Reino dos Céus pousaria na Terra e somente os seguidores do grupo seriam autorizados a ir até lá. (Os Meninos de Deus tinham comunidades em todo o mundo, e entre aqueles que cresceram na seita estão os atores Joaquin Phoenix e Rose McGowan.)
Enquanto Sean descobria a música eletrônica, o Kevin formou uma banda de “Disney metal” sozinho, aprendeu a tocar vários instrumentos e a fazer arranjos orquestrais de várias faixas. Kevin viajou pelo Rio e São Paulo com uma banda cover dos Meninos de Deus tocando músicas clássicas de rock e músicas country.
“Não era permitido ter dinheiro, todos éramos iguais”, conta Sean. “Nós íamos para os faróis e vendíamos CDs de música feita pelo grupo, para pregar a palavra de Deus e tentar trazer mais pessoas para a seita. E algumas garotas bonitas iam “flirty fishing”. Elas tentavam encontrar homens ricos para fazer programa, para conseguir dinheiro”.
O Flirty Fishing era uma prática de seleção dos Meninos de Deus, e o fundador David Berg também instruía os seguidores a praticarem o “compartilhamento sexual“, que envolvia ter relações sexuais com menores — e até mesmo com membros da família. Em 1995, um juiz britânico decidiu que o grupo e alguns de seus principais líderes estavam se engajando em atividades sexuais abusivas envolvendo menores — embora os Meninos de Deus já tinham abandonado essas práticas naquele momento.
(O grupo, mais tarde, mudou seu nome para Família do Amor e, mais recentemente, para Família Internacional).
Jody Brauer diz que não se envolveu em tais práticas abusivas em seu complexo no Rio ou permitiu que outros fizessem com seus filhos, mas a mudança nessa direção a levou e a outros membros brasileiros a saírem do grupo. Mesmo após o colapso da seita, por volta de 2008, Kevin e Sean viveram no Oásis até 2017.
De “BYOB” para o “BOOM”
Sean Brauer não estava indo a lugar nenhum na indústria da música.Uma década depois da sua primeira rave, ele estava com problemas financeiros e cansado de trabalhar como um produtor fantasma sem crédito, cobrando algumas centenas de dólares por música. No final de 2015, um DJ europeu, com quem Sean tinha trabalhado, levou-o para Portugal para ajudá-lo a produzir novas músicas. Em Lisboa, ele conheceu o Alok. Filho de dois DJs psicodélicos que tinham fundado a rave de uma semana chamada Universo Paralelo no norte do Brasil.
O Alok já era um DJ conhecido com boa aparência de um modelo e um dom para marketing e promoção. À medida que emergia do anonimato para um pop star, ele enfrentou críticas da comunidade psicodélica brasileira, que o considerava um traidor.
Para Sean, o Alok era uma forma de entrar no meio. “Pela primeira vez em 10 anos, minha carreira realmente teve um vislumbre de esperança”, diz ele. Mas enquanto estava em Portugal, o Brauer soube que seu pai estava em coma e logo voltou para o Brasil. Uns dias depois, o Sean enviou ao Alok a sua demonstração inacabada de um remix de “B.Y.O.B.”, uma música da banda de metal System of a Down, prometendo dar uma arrumada nela. “Isto é incrível”, respondeu Alok. “Manda ela”.
Quando chegou a hora de escolher um nome para o DJ, o Sean falou para o Kevin, que estava ensinando inglês no Rio e ainda sonhava em ser um astro do rock. “Você quer viajar pelo mundo e ser um DJ?”, perguntou ao irmão. E aí nasceu o Sevenn (Sean + Kevin).
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Uns dias depois, o Sevenn lançou “Colors of the Rainbow”, uma “música triste para o pai” que eles escreveram depois da morte do pai (a irmã deles, Kathy Brauer, é quem canta). Ao produzir duas músicas, o Sean falou que experimentou sons graves e criou dois pré-ajustes — uma batida ou “thonk”, e uma longa “onda rasgada com um filtro nela” — que se tornou a assinatura do que, mais tarde, Alok chamou de Brazilian Bass. “Foi muito simples”, disse Sean. “Eu não estava tentando ser inovador nesse sentido…, mas depois todo mundo e até mesmo o seu cão começou a fazer isto”.
Depois que “BYOB” foi lançada, o Alok prometeu aos irmãos Brauer um grande futuro. “Vão ser o top 1 ‘EDM’ em 2 anos”, ele mandou em uma mensagem de texto para o Sean em português em 24 de dezembro de 2016. “Vou transformar você e seu irmão em dois monstros do mercado”.
O Alok, através da Artist Factory, uma agência de artistas que ele era sócio, e seu ex-empresário Marcos “Marquinhos” Araújo, entregaram ao Sevenn seus primeiros shows ao vivo, inicialmente por 2.000 reais (cerca de US$500) para o Tomorrowland Brasil em maio de 2016 e depois subiu para 10.000 reais (cerca de US$ 2.500) para shows semanais. O Sevenn também tocou o carro-chefe Tomorrowland na Bélgica em 2018 e 2019. O Alok indicou um empresário para eles, Gabriel Lopes, outro parceiro na agência. (Em contraste, no final de 2018, o Alok ganhava uma média de US$100.000 a US$150.000 por show, segundo Araújo.)
Os irmãos Brauer, por sua vez, dizem que tentaram ajudar o Alok do jeito que puderam, enviando ideias, faixas de demonstração e versões masterizadas de músicas solicitadas, às vezes da estrada — muitas vezes com rápidas reviravoltas. “Preciso de uma massiva introdução para domingo na Villa Mix. Vocês poderiam me ajudar? Eu tenho que terminar 4 músicas ainda. Estou fudido”, escreveu Alok para os irmãos Brauer em junho de 2017. “Vamos mandar ver, que estilo você está pensando?” respondeu Kevin, que afirmou ter trabalhado das 19h às 5h da manhã, no dia seguinte, para deixar a “introdução massiva” pronta.
O Alok parecia ter uma noção do que queria, enviava regularmente faixas e vídeos de referência ao Sevenn, e os orientava para fazer as músicas com batidas específicas por minuto. “Então, eu quero algo sofisticado, mas também com orquestra”, disse Alok em uma mensagem de voz pelo WhatsApp para o Kevin ao solicitar a introdução do Villa Mix. “Sabe aquela trilha sonora que vocês fizeram para o meu vídeo da Samsung? É uma loucura. Eu adoro esse tipo de introdução introspectiva”.
No final de 2016, os irmãos Brauer dizem que estavam ficando impacientes em trabalhar com o Alok. Em novembro, o Kevin escreveu uma faixa para um anúncio da Budweiser, “Love is a Temple“, para a qual Alok recebeu cerca de US$200.000, segundo Araújo. O Kevin diz que não recebeu nenhum crédito pela produção. Então, quando a dupla criou “BOOM” — que se tornaria seu maior hit de streaming até hoje, com 161 milhões de streams no Spotify — eles lançaram antes que o Alok tivesse a chance de mostrá-la a outros grandes DJs. “Nós pensamos que [Alok] ia pegar para ele”, disse Sean.
Com a versão original da faixa do Sevenn já lançada, o Alok levou “BOOM” para o Tiësto e apresentou ele ao Sevenn. O DJ holandês dividiu o crédito com a dupla e dividiu os royalties por igual. Naquele março, quando o Tiësto tocou “BOOM” no Ultra Miami, ele levou os irmãos ao palco. “Brazilian Bass está na casa”, ele falou à multidão, e Sean, ostentando sua marca registrada Mohawk, pulou e dançou com seu irmão. (O Spinnin’ lançou a música em abril de 2017. Até o momento, o Tiësto não lançou uma faixa com o Alok.)
“O Tiësto foi incrível para nós”, disse o Sean. “Nós não esperávamos isso, porque era exatamente o oposto do que recebíamos do Alok.”
Agora, Alok, em seu processo, está reivindicando uma quantia indeterminada de royalties pela “BOOM”, juntamente com “Tam Tam”, “Beautiful Tonight”, “BYOB (remix do Sevenn)” e “It’s Always You”. O Eduardo Senna, advogado do Sevenn, chamou isto de um “processo absolutamente falso”, acrescentando que “nunca em toda a minha carreira vi um processo movido sem narrativa e sem qualquer prova”.
Na sede do Spinnin’ na Holanda, Jorn Heringa, chefe da A&R, diz que não sabia quantas músicas do Alok o Sevenn estava produzindo — e do pouco crédito ou compensação que eles estavam recebendo. “Honestamente, nunca ouvi nada sobre isso”, disse ele. “Eu sabia que os caras do Sevenn e o Alok estavam fazendo coisas juntos, mas eu sempre pensei que eles eram amigos e que estavam se ajudando…e o Alok era o carro-chefe naquele território”.
Em novembro, a Universal Music Publishing Group assinou com o Alok um contrato exclusivo de publicação global. Uma fonte familiarizada com o acordo diz que se trata de um arranjo que não inclui nenhuma música publicada antes de 2020; o gerenciamento do Alok disse que a Kobalt administra o catálogo dele. (Um porta-voz da Kobalt diz que a editora não administra nenhuma das 14 faixas em questão).
Depois do “BOOM”, os irmãos Brauer, ainda apegados à crença de que ele tinha seus melhores interesses no coração, continuaram a produzir para o Alok.
Durante esse período, no entanto, o Alok se ofereceu para pagar os irmãos por alguns de seus trabalhos. Em julho de 2017, ele disse que enviaria US$10.000 pelo anúncio da Budweiser e para o master do remix de Jagger. “Hahahahahahaha você é engraçado!! Cara, você não tem que pagar por nada”, escreveu Sean no WhatsApp. “Cara, de jeito nenhum, você já pagou por isso”, acrescentou Kevin. “Deixe-me fazer isso… Vou me sentir melhor”, respondeu Alok, que disse na mesma troca que colocaria o Sevenn nos royalties de “Suave”, uma colaboração com a dupla sertaneja Matheus e Kauan.
Os irmãos Brauer dizem que se arrependem de ter recusado a oferta do Alok. Eles também dizem que não acreditaram que era real, talvez foi um sinal de que eles não entenderam o valor deles mesmos. “Nós nunca tínhamos recebido um dinheiro assim antes”, diz Kevin. “US$10 mil era insondável”. (Alok parece ter tomado os irmãos Brauer pela palavra deles; ele não pagou por “Suave” nem os adicionou ao crédito de publicação, segundo Kevin).
Em agosto de 2018, o Sevenn começou a se sentir explorado e estava se frustrando com o Lopes, o empresário deles. Os irmãos Brauer queriam sair de um contrato de 10 anos que tinham assinado em 2017 e pagavam a Artist Factory 40% dos seus shows e outras receitas. Eles dizem que o Alok e seus sócios arrastaram as discussões contratuais por mais de um ano — a certa altura, Alok negou até a existência do contrato de gestão, segundo a gravação de uma chamada entre ele e o Kevin — e estavam atrasando a carreira da dupla.
O Lopes, segundo os irmãos Brauer numa declaração, “fez pouco ou nada em relação ao gerenciamento da nossa carreira. Ele não nos defendeu em relação à obtenção de royalties, nos aconselhando na direção estratégica, nos ajudando com os erros de agendamentos da AF que acabaram nos custando, e nos ajudando a ir atrás de oportunidades comerciais” (Lopes não respondeu aos pedidos de comentários).
Ainda assim, em meio à tensão crescente, Alok deu para a dupla alguns créditos de produção nos meses seguintes. Em junho de 2019, ele lançou um remix do “The Wall” do Pink Floyd e depois “Symphonia” no mês de fevereiro seguinte, ambas com a colaboração do Sevenn. (Alok deu ao Sevenn 40% de todos os royalties do “The Wall” e dividiu igualmente em “Symphonia”, segundo Kevin.)
Em dezembro de 2019, os irmãos Brauer descobriram que sua mãe tinha câncer no pâncreas no estágio quatro. O Sean foi para Paso Robles, na Califórnia, para cuidar dela — entregando as rédeas do Sevenn para seu irmão. Para o Sean, que se viu repentinamente encarando a perspectiva de aumentar as contas médicas, foi um ponto de ruptura.
“Depois de tudo o que estava acontecendo e vendo o Alok bombar, bombar e bombar e ficar maior e maior, então, tudo parece que se acumulou dentro de mim e eu surtei”, diz ele. “Você só quer dar uma boa vida à sua mãe moribunda e não espera de alguém que pode ajudar, não ajudar, a pessoa fala que é seu pai, seu irmão, ‘Eu te amo’”, diz Sean, com a voz embargada. “[Alok] chorou quando descobriu que mamãe tinha câncer. Como você pode não se oferecer para ajudar?”
O Sean falou que foi, então, que ele finalmente “acordou” e começou a recuar mais. No final de 2020, ele ficou irritado com a equipe do Alok por ter supostamente usado suas partituras para criar faixas para a gravadora Controvérsia Records do Alok (que faz parte da Spinnin’), incluindo o remix do Alok do “Piece of Your Heart” da Meduza — sem nenhuma oferta para compensá-lo.
“Irmão, me ajuda”, ele mandou uma mensagem para o Alok em português em 21 de dezembro de 2020. “Seus empresários já roubaram minha música e agora estão fazendo várias músicas e crescendo sua carreira com MEU som…Não tenho problema nenhuma com isso, eu quero o seu melhor e que sua carreira cresça o máximo possível! Mas por favor, fala pra eles me colocarem pra receber uma porcentagem dos royalties dessas [faixas]?” (Alok não respondeu a mensagem, segundo Sean, e esta foi a última vez que mandou uma mensagem para o DJ brasileiro.)
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Dois dias depois, ele enviou um e-mail para os empresários do Alok, escrevendo que “é inacreditavelmente injusto para mim que meu estilo e meus sons estejam sendo usados sem meu consentimento para criar músicas”.
A briga entre Alok e Araújo transborda
De volta ao Brasil, no final de 2020, as tensões estavam também aumentando entre Alok e Araújo, o poderoso empresário-promotor brasileiro e proprietário da AudioMix, que controla a empresa de festivais Villa Mix.
O Alok tomou partido na separação de Araújo e sua ex-mulher Pétala Barreiros, emprestando a ela alguns seguranças depois que ela pediu uma ordem de restrição. Em uma série de vídeos, ela acusou Araújo de abuso doméstico. O Araújo se recusou a comentar as alegações dizendo por meio de um advogado nas redes sociais que Barreiros estava tentando “enganar a opinião pública” e estava “persistentemente distorcendo a realidade”.
Depois que a briga explodiu na mídia brasileira, alguns dos principais clientes de Araújo, incluindo o Alok, começaram a romper com o empresário.
O Araújo e o Alok dissolveram a parceria comercial deles em abril com Araújo dizendo que aceitou o pagamento da multa de separação de 20 milhões de reais (US$3.5 milhões) na forma de um avião particular avaliado em 15 milhões de reais (US$2.7 milhões). Mas, ele diz que o Alok acabou vendendo o avião sem a autorização dele e ainda não pagou o ex-empresário pela multa negociada.
A partir de então, o Araújo disse que só tomou conhecimento no ano passado do envolvimento do Sevenn na produção musical do Alok, ele vem tentando acertar as questões contratuais entre o Alok e o Sevenn para ter Kevin Brauer como cliente.
Em julho passado, o Kevin finalmente atingiu seu próprio ponto de ruptura. Um advogado, representando Alok, escreveu ao advogado do Araújo pedindo ao Sevenn que assinasse uma declaração de que “o Alok nunca se apropriou de quaisquer produções musicais do [Kevin] ou do irmão dele”, de acordo com uma mensagem de texto. Se os irmãos Brauer assinassem, segundo o advogado, o Alok e a Artist Factory liberariam o Sevenn do seu contrato de gestão sem cobrar a taxa de rompimento de 20 milhões de reais. O Sevenn se recusou a assinar.
Dois meses depois, segundo Kevin, o Alok tirou a introdução dele no palco e tocou colaborações inéditas do Sevenn-Alok para abrir sua apresentação no festival Untold, na Romênia. “Ele, de fato, postou isto no Instagram e foi aí que alguns dos meus fãs me marcaram”, disse Kevin. (A abertura do set do Alok e do set do Tomorrowland 2019 do Sevenn são notavelmente semelhantes.)
Nos últimos meses, o clã Brauer tem se unido em torno do Sean e Kevin. “Eu acho que [Alok] acabou vendo como os garotos eram inocentes”, diz Jody Brauer, que está passando por uma nova rodada de quimioterapia. “Foi raiva porque eu estava tipo, ‘Ei, esperem, ele está roubando vocês’. ‘Mas mãe, ele está nos ajudando’… Depois de um tempo, começou a ficar ridículo… Isto chegou a um ponto que estávamos quase sendo, como, estúpidos.”
Carregando a bandeira do Sevenn
Agora, afastado do Alok, Kevin continua a levantar a bandeira do Sevenn. Ele está desenvolvendo uma nova música para um som que ele chamou de “hybrid techno” — que ele descreve como uma mistura de “pop-melodic house-techno” com “grandes vocalistas”. Ele está trabalhando em uma nova faixa com Tiësto, com um vocal de um crooner de jazz de 75 anos, que ele enviou para o holandês, e em uma potencial colaboração com Timmy Trumpet, segundo ele.
O Sevenn assinou um contrato de três anos, no final de novembro, com William Morris Endeavor para agendamentos exclusivos fora do Brasil. (A Box Talents, outra agência artística da qual Alok é sócio, trata dos agendamentos dentro do Brasil). Os irmãos continuam a ajudar um ao outro com sua música. O Sean mudou recentemente de São Paulo para Las Vegas para se concentrar em produzir, enquanto Kevin faz turnê pelo mundo como Sevenn.
Em novembro, Kevin fez um show em Tucson, Arizona, antes de voar para o Rio dois dias depois para uma rave com tema de Alice no País das Maravilhas, em uma marmoraria, ganhando um pagamento de 12.000 (cerca de US$2,200) para 1.500 pessoas. Nos bastidores, depois de um set de 90 minutos, com o suor escorrendo dos cabelos loiros descoloridos e amarrados por uma bandana vermelha, os pensamentos em seu irmão Sean, as suas lutas com o Alok — e a natureza da lealdade e da parceria — não estavam longe.
“Quando o Sean me disse que ele seria o Sevenn, eu disse: “Olha, independente do que você fizer, metade do Sevenn será sempre seu, este é o seu bebê’”, Kevin disse. “Eu vou fazer o que for preciso para manter essa coisa. Ele me deu essa oportunidade. Eu não posso fazer isto sem ele”.
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Na noite de Ano Novo, o Alok protagonizou um festival na Praia de Pipa, no norte do Brasil, um dos cinco shows que ele fez em quatro dias — depois de voltar da Coreia do Sul, onde promoveu seu recente single, “Squid Game (Let’s Play)”. O Sevenn, por sua vez, fez uma festa particular de Ano Novo em um local não revelado, no Brasil.
Dias depois, Senna, o advogado do Sevenn, determinou que o Araújo, como sócio-gerente da Artist Factory, rescindisse unilateralmente o contrato com o Sevenn, sem multa, e ele foi feito em 10 de janeiro, aparentemente encerrando a disputa contratual. (No mesmo dia, no entanto, um advogado do Alok entrou com outra ação em São Paulo contra o Sevenn, alegando que eles não estavam cumprindo suas obrigações contratuais com a Artist Factory, que Senna diz ter ignorado a dispensa assinada por Araújo).
Depois, na última sexta-feira (14 de janeiro), o Alok lançou uma nova música, “Un Ratito”, uma colaboração reggaeton com Luis Fonsi, Lunay, Lenny Tavárez e Juliette. O Kevin começou a produzir a faixa em 2017 como “Let’s Make Love (nanananana)”. Desta vez, o Kevin foi listado nos créditos da música no Spotify como um dos 14 autores, mas não como produtor. O Kevin compartilhou sua demonstração original com a Billboard, onde ele canta e toca guitarra, juntamente com trocas de texto e mensagens de voz com o Alok sobre a música e links para pelo menos cinco versões, que ele e o Sean enviaram para o Alok, se estendendo até os meados de 2018.
“A melodia, a bateria, a guitarra – quase tudo que você ouve tinha alguma coisa que eu fiz”, disse Kevin. “A produção é minha”.
O Alok não pediu autorização ao Sevenn para lançar a faixa, segundo Kevin, nem pagou nada ao Sevenn pelo trabalho deles na música, nem discutiu dar a eles qualquer parte da publicação. O Araújo disse que enviou a demonstração original da música para o presidente da Universal Brasil, Paulo Lima, há cerca de quatro anos, lançando como uma colaboração do Alok, Sevenn e Luis Fonsi. (Nem o Lima, nem um porta-voz da UMG responderam aos pedidos de comentários).
Depois que Kevin solicitou que as principais plataformas de streaming retirassem “Un Ratito”, o YouTube removeu o vídeo oficial em 24 de janeiro. Três dias depois, um juiz em Goiânia, Brasil, ordenou que o Google Brasil o colocasse novamente. Depois que o caso foi vedado ao público e mais disputas legais ocorreram, o YouTube republicou o vídeo em 11 de fevereiro. (O caso está em andamento. O Alok, no Instagram, negou que o Sevenn fosse o principal autor da música, dizendo que ele havia substituído partes que o Kevin tinha gravado originalmente com outros músicos).
Apesar da sua história complicada, o Sevenn diz que não pretendia prosseguir com uma ação judicial contra o Alok por royalties ou publicação de divisões. Mas, devido ao mais recente desenvolvimento com “Un Ratito”, que teve mais de 7,7 milhões de streams no Spotify e mais de 2 milhões de visualizações no YouTube desde sexta-feira (o dia 18 de fevereiro), os irmãos Brauer dizem que agora planejam entrar com uma ação em breve, onde alegarão que Alok negou a eles a autoria e os royalties de várias músicas.
“Sinceramente, é chocante que mais uma vez o meu trabalho esteja sendo usado injustamente”, diz Kevin. “Parece mais uma traição. Este é um exemplo do que temos dito. Para os jovens artistas e futuros artistas por aí, nós esperamos que isso sirva como um alerta para conhecerem os seus direitos e tratá-los como um negócio”.
Reportagem adicional de Ed Christman
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